Fiordes de tirar o fôlego, montanhas brancas de neve, glaciares forrando a paisagem. Baías e lagos compondo o cenário que cerca a porção de terra de águas por todos os lados. Carneiros, ovelhas e cordeiros pontilhando de tufos alvos vales verdes que vos quero verdes.
Ao sul da linha do Equador, sem fronteiras, a Noruega e a Suíça. Poderia ser delírio se não existisse a Ilha do Sul, a parte mais extensa e menos povoada do arquipélago da Nova Zelândia. Para que não restem dúvidas, trechos da topografia acidentada da região ostentam nomes como Fiordland e Alpes Meridionais e são, fato raro, cópias com a qualidade dos originais. Bem vindo ao turismo na Nova Zelândia.
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Lugares lindos na Nova Zelândia
A conformação territorial das duas principais ilhas do arquipélago lembra a “bota” italiana, mas de cabeça para baixo e dividida na altura do “tornozelo” pelo estreito de Cook, onde fica a capital, Wellington.
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A Ilha do Norte é o “pé” e a Ilha do Sul, mais a pequena ilha Stewart, o “cano”… urna terra em que a natureza se mostra em momentos de grande inspiração, nas reentrâncias que penetram fundo as montanhas e ligam o mar ao lago, na cordilheira que acompanha o sentido longitudinal da ilha — e prossegue na Ilha do Norte, com atividade vulcânica em montes como o Egmont, Ngauruhoe e Ruapehu, mais fumarolas, gêiseres, nascentes quentes e solfataras —, nos vastos depósitos de gelo que descem pelas vertentes.
O contraste entre o mar e a terra cria harmonias como Doubtful Sound, Dusky Sound e Milford Sound, já descrito por Rudyard Kipling como a oitava maravilha do mundo.
O escritor inglês pode ter pecado pelo uso do lugar-comum, mas é impossível tirar o status de “maravilha” a essa sucessão extremamente bem arranjada de lagos, montanhas e rios emoldurada por densas florestas e situada na costa oeste da Ilha do Sul, banhada pelo mar da Tasmânia.
Segundo os geólogos, os milagres da paisagem se devem à erosão glaciária. Ao longo de 2 milhões de anos, até cerca de 10 mil anos atrás, moldaram-se os elementos que fazem da Ilha do Sul um museu de formas glaciárias e periglaciárias, como os fiordes e os lagos.
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Para os maoris, os primitivos habitantes das ilhas, nada mais elementar. A Ilha do Sul era simplesmente a Te-Waka-a-Maui, a piroga do semideus Maui, que pescou das profundezas do mar a Ilha do Norte. De fato, o formato retangular da Ilha do Sul lembra uma embarcação primitiva, e os estudos provam que é mais antiga que a Ilha do Norte.
Mas, ao contrário da concavidade de um tronco escavado, são as superfícies convexas que caracterizam essa piroga que flutua a leste da Austrália, entre os paralelos 402 e 502.
Mais de 200 picos que superam o limite das neves eternas se alinham ao longo dos Alpes Meridionais, na costa oeste da ilha. Entre eles, duas dezenas ultrapassam a altitude de 3 mil metros, a exemplo do Monte Cook (3.764 metros), o mais alto.
“Aorangi” para os maoris, o pico é o centro do Parque Nacional Monte Cook, uma das várias áreas de preservação ambiental da Ilha do Sul, e suas vertentes são cobertas por camadas de gelo e neve como o glaciar Tasman, deslumbrante tapete que se estende por 30 quilômetros.
Quem quiser, pode profanar o branco, vestir roupas supercoloridas e praticar esqui no glaciar. São dez quilômetros de “pista”, povoados por fendas gigantescas, formas de gelo — e neve, muita neve, para matar a saudade de qualquer suíço. Mais ao sul, outros glaciares, como o Fox e o Franz Josef, e, mais abaixo, no extremo sudoeste da ilha, um cenário para matar a saudade dos noruegueses.
Milford Sound: a oitava maravilha
A Fiordland é um dos maiores parques nacionais do mundo, tem 1,2 milhão de hectares e se apresenta como nos tempos da criação. Para isso, contribuem o isolamento e o relevo acidentado, atravessado por um só caminho.
É onde ficam Doubtful Sound, Dusky Sound, Milford Sound e outros fiordes de magnífica beleza, com margens rochosas que se elevam a 1.200 metros, acessíveis principalmente a partir do mar. Mas há também os fiordes dos lagos de montanha. como o Manapouri e o Te Anau, com canais a oeste.
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Até o começo dos anos 50, quando foram abertos uma estrada e o túnel Homer, somente se chegava por terra a Milford Sound após três dias e através de 50 quilômetros de mata — Milford Track foi definido o mais belo passeio do mundo.
Há quem diga que Fiordland é para a Nova Zelândia o que a Mona Lisa é para o Museu do Louvre. A comparação pouco imaginativa lembra a frase de Kipling, mas basta contemplar os três saltos de Sutherland Falis, as quedas d’água descobertas por um certo Donald Sutherland — nada a ver com o ator canadense —, despencando do lago Quill, a 580 metros de altura, para constatar que não é exagerada.
Sutherland construiu uma cabana na margem de Milford Sound, em 1875, e lá viveu dos 36 aos 80 anos, quando morreu. Sucumbiu ao fascínio dessa região de águas e montanhas que, hoje, abre-se com facilidade e conforto para o visitante — barcos de turismo percorrem os meandros dos fiordes, ônibus ziguezagueiam pelas montanhas até Queenstown ou Te Anau.
Queenstown, às margens do lago Wakatipu, é a capital do turismo na região. Por vários motivos. A oeste, exibe a cadeia de montanhas The Remarkables, de picos nevados, vertentes abruptas e trilhas na mata. Ao sul, o lago Wakatipu, a casa de um taniwha, ou seja, um monstro.
É assim que os maoris explicam um fenômeno que intriga os geólogos: a cada 15 minutos, a água sobe ou desce 7 centímetros, como se o lago respirasse. Os geólogos ainda discutem os motivos, que tanto poderia ser a formação rochosa do fundo do lago ou sua ligação com os glaciares.
Nas proximidades de Queenstown ficam ainda os antigos campos auríferos de Otago e as melhores pistas de esqui da Ilha do Sul.
Já Christchurch, entre o rio Waimakariri e Lyttelton Harbour, na costa leste, a metrópole da Ilha do Sul, tem 320 mil habitantes e permite que o visitante se abasteça de vida urbana — no british style — antes de voltar ao encontro da natureza.
Em Kaikoura, a duas horas e meia, na direção norte, pode-se observar baleias que brincam a pouca distância do barco. Em Otago Harbour, a quatro horas, na direção sul, é a vez de ver albatrozes, focas, gaivotas, golfinhos e pinguins, fauna típica das regiões temperadas.
Quem quiser ver tudo isso sem sair de Christchurch pode ir ao International Antarctic Centre, a 20 minutos do centro. Ali está uma amostra da vida antártica — a Nova Zelândia administra a dependência de Ross, na Antártida, desde 1923
As terras dos caçadores de moas
Em dezembro de 1642, quando o navegador holandês Abel Janszoon Tasman descobriu a Nova Zelândia para a Europa, os maoris lá estavam há pelo menos mil anos, já não eram simples caçadores de moas e envolviam-se em acirradas disputas intertribais.
Tasman chegou pelo oeste da Ilha do Sul, desembarcou perto de onde está hoje a pequena cidade de Hokitika, surpreendeu-se com as altas montanhas dos Alpes Meridionais e descreveu a região como uma “grande terra elevada”. Navegou ao longo da costa do arquipélago durante 20 dias, aproximou-se do estreito que separa as ilhas do Norte e do Sul, julgou tratar-se de uma baia e prosseguiu viagem.
O encontro com os maoris aconteceu na parte noroeste da Ilha do Sul. Foi desastroso. Tasman deixou um desenho em que retrata a aproximação das canoas maoris de seus navios, o Heemskerk e o Zeehaen. Eram guerreiros em defesa de seus territórios e atacaram, causando quatro baixas entre os marinheiros holandeses — mas houve mortes também do lado maori.
Tasman deu o nome de “Baia dos Assassinos” ao local, mas a história se encarregou de mudar a denominação para Golden Bay, Baia do Ouro, assim que se descobriu ouro nas vizinhanças. A missão holandesa ia em busca do continente do sul, a Terra Australis Incognita, e descobriu ainda a grande ilha abaixo da Austrália, que ganhou o nome de seu comandante: Tasmânia. O mar da Tasmânia, que separa a Austrália da Nova Zelândia, lembra mais uma vez o comandante.
O Abel Tasman National Park, um lugar de trilhas tranquilas, angras e enseadas sossegadas, e farta vegetação, também é dedicado ao descobridor — e há um memorial a caminho do parque. Mas há ainda a baia Tasman — ao lado da Golden Bay —, os montes Tasman — na costa das duas baias—, o monte Tasman — ao norte do monte Cook.
E Tasman Empire Airways era o nome anterior da Air New Zealand, a companhia aérea de bandeira do país. Homenagens justas, pois Abel Tasman descobriu uma espécie de museu vivo da natureza, com suas formas glaciárias e fauna única. Até a natureza imóvel guarda ali certa mobilidade, como acontece na Ilha do Sul.
É o lago que respira, os montes que vertem neve, os fiordes que oxigenam a terra… Para ficar no lugar-comum, é uma das “oitavas maravilhas do mundo”.
Planejando uma viagem de turismo na Nova Zelândia? Ainda tem dúvidas? Gostaria de compartilhar suas histórias? Deixe suas dicas e comentários!
Até + !!!
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